«A Reorganização Administrativa Territorial Autárquica levou à extinção de
mais de mil freguesias, contrariando a posição da maioria dos órgãos
autárquicos que as governam e a vontade das suas populações.
No concelho de Palmela, esta lei veio forçar a agregação administrativa
das freguesias de Marateca e Poceirão que, no seu conjunto, correspondem a um
território rural, com cerca de 8500 habitantes, dispersos por 282 quilómetros
quadrados, mais de metade do concelho de Palmela (com 465 quilómetros
quadrados). Falamos de uma área incomparavelmente superior a concelhos como
Lisboa (83,84), Amadora (23,77), Oeiras (45,84) ou Setúbal (170,57), só para
nos situarmos na Área Metropolitana de Lisboa e na Península de Setúbal. E
falamos, também, de um território com boas acessibilidades, mas sem transportes
públicos que garantam ligação direta à sede do concelho e à circulação, em
tempo aceitável, entre os limites dos territórios das freguesias de Marateca e
Poceirão.
Para a gestão autárquica, torna-se ainda mais difícil garantir os serviços
públicos de proximidade essenciais para o quotidiano das populações, o que
representa um retrocesso na administração do nosso território.
Atualmente, e devido aos diversos quadros normativos que regulam a
administração territorial, estão criadas profundas discriminações que acentuam
ritmos de desenvolvimento desiguais:
- as freguesias do concelho de Lisboa têm competências e financiamento
específicos;
- as freguesias cuja agregação resultou da pronúncia das Assembleias
Municipais têm financiamento majorado;
- as freguesias cuja agregação foi imposta, apesar da oposição dos seus
órgãos representativos, não têm qualquer majoração em termos financeiros;
- as freguesias que se mantiveram ou que, ao abrigo da Lei 11-A/2013, não
estavam obrigadas a qualquer tipo de reorganização, também não têm qualquer
majoração financeira;
- as freguesias das regiões autónomas não foram obrigadas a qualquer
reorganização por constituir matéria legislativa regional.
- a obrigatoriedade de redução de pessoal em 2%;
- as retenções de verbas das autarquias, “por conta” e por estimativa, de
eventuais encargos com a saúde dos trabalhadores;
- o aumento das contribuições para a Caixa Geral de Aposentações (de 10
para 23,5%, em meia dúzia de anos);
- a imposição das 40 horas de trabalho semanal;
- o novo corte de vencimentos, constituindo mais um rude golpe nas condições
de vida dos trabalhadores, já muito penalizados pelos constantes aumentos da
carga fiscal, o aumento das contribuições sociais, o corte dos subsídios e o
congelamento das progressões nas carreiras.
O Congresso da ANAFRE, a realizar nos dias 31 de janeiro e 1 e 2 de
fevereiro, em Aveiro, será, certamente, um espaço de grande afirmação do Poder
Local e das suas realizações. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Palmela,
reunida em sessão pública, no dia 22 de janeiro, delibera:
- solicitar a intervenção dos grupos parlamentares, no sentido de
promoverem a revogação das leis 22/2012 e 11-A/2013, de forma a anular a
agregação das freguesias de Marateca e Poceirão, contra a vontade das suas
populações e dos seus órgãos representativos;
- manifestar a frontal oposição à desigual repartição de recursos
financeiros pelos diversos órgãos da administração, exigindo a revogação da Lei
73/2013 de 3 de setembro e a reposição das verbas subtraídas sucessivamente às
freguesias, ao longo dos últimos anos;
- exigir e clarificar o regime de atribuições e competências próprias e o
modelo de delegação de competências previstos na Lei 75/2013, de 12 de
setembro, através da criação de um verdadeiro Regime Jurídico e de uma Lei das
Finanças Locais, que consagre a verdadeira autonomia local e contemple os meios
necessários à execução das competências próprias das autarquias;
- condenar o continuado ataque aos trabalhadores da Administração Pública
e, em particular, da Administração Local, afirmando a sua solidariedade para
com as suas lutas pela reposição das 35 horas semanais;
- apoiar incondicionalmente as Juntas de Freguesia do Concelho de Palmela,
exortando o Congresso da ANAFRE a tomar posições firmes junto do Governo, na
defesa intransigente do Poder Local, das Freguesias e dos interesses das
populações.»