segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Palmela contra o cemitério nuclear de Almaraz


A intenção do Governo Espanhol de autorizar a instalação de um armazém de resíduos nucleares na central de Almaraz justificou uma tomada de posição por parte da Câmara Municipal de Palmela, que aprovou, por unanimidade, uma moção sobre o tema na reunião pública de 11 de janeiro.
No documento, o Município rejeita quer o cemitério nuclear, quer o prolongamento da vida da central - um equipamento obsoleto que dista apenas cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa e se encontra nas margens do rio Tejo, com todos os riscos decorrentes – exortando o o Governo de Portugal, a Assembleia da República e a sociedade civil a exigirem o seu encerramento. A generalização e otimização das energias renováveis deve ser o caminho a seguir e para o qual devem convergir os esforços políticos, científicos e económicos.
Abaixo, transcreve-se o texto integral da moção:

«O uso de energia nuclear está desde sempre envolto em controvérsia, e os vários desastres que, periodicamente, acontecem, com consequências gravíssimas, vêm dando mais força à nossa convicção que o seu uso deve ser abolido, devendo os esforços políticos, científicos e económicos convergir para a generalização e otimização das energias renováveis, amigas do ambiente.
É de relembrar que, quando se deu o acidente em Fukushima, muitas foram as vozes de responsáveis políticos nesta Europa — na Alemanha, em França, em Espanha e noutros países — que afirmaram ser tempo de terminar com a energia nuclear, de encontrar outras alternativas e de criar planos que progressivamente fossem terminando com a opção do nuclear. Partilhamos desta visão.
É nossa posição rejeitar a instalação de qualquer central ou cemitério nuclear em Portugal, ou junto da fronteira portuguesa, constituindo há muito motivo de preocupação a situação da central nuclear de Almaraz.
A central nuclear de Almaraz funciona desde 1981, parcialmente, e plenamente desde 1983, impondo-se o seu encerramento e desmantelamento se não antes, pelo menos desde 2010, o que teria sucedido se o Governo Espanhol não tivesse prolongado a licença de atividade até 2020. Estamos perante uma central que se situa apenas a cerca de 100 km da fronteira portuguesa, usa as águas do Rio Tejo para refrigeração e está obsoleta. 
Esta obsolescência é confirmada pelas falhas e deficiências que se têm sucedido ao longo de anos, havendo a registar já em 2016 avarias nas bombas de arrefecimento, uma paragem de um dos dois reatores (aliás do mesmo modelo dos de Three Mile Island, nos Estados Unidos da América, onde ocorreu um acidente nuclear em 1979 de grandes dimensões), um incêndio num dos geradores de energia e a deteção do uso de peças com defeito nos seus geradores.
Perante isto, o Governo Espanhol não só não adota a medida que se impõe, que é o encerramento e desmantelamento da central nuclear de Almaraz, como ainda pretende autorizar a instalação de um armazém temporário de resíduos.
Não conformada, a população toma posições, e manifestações ao nível ibérico têm ocorrido, reclamando-se o encerramento desta central nuclear e pedem ao governo português que seja proactivo junto do governo espanhol e exerça pressão para que tal desiderato se concretize.
Por cá, os sucessivos governos portugueses, por outro lado, tardam em tomar a atitude proactiva ansiada.
Sabendo que os reatores nucleares de Almaraz já ultrapassaram o seu prazo de validade há vários anos, é determinante lembrar que, nos termos do acordo de Madrid, celebrado entre Portugal e Espanha, no mês de fevereiro de 2008, Portugal tem uma palavra ativa em relação a toda esta situação de Almaraz, uma vez que num contexto de impactos transfronteiriços, não temos direito a apenas um favor de informação mas a uma efetiva participação num processo decisório.
O que se justifica, pois em caso de acidente, teríamos sérios problemas radioativos em território português, e no rio Tejo com grande particularidade, devastando a sua biodiversidade e o tanto que a sua estabilidade representa para as/os portuguesas/es.
Por tudo isto, Almaraz não é um assunto dos espanhóis, é, antes de mais, uma questão de segurança nacional, que se deve acautelar e reclamar. E desde logo, porque o ambiente não tem fronteiras.
E porque ao Governo português, como a qualquer outro, compete defender os interesses do seu povo e do seu território para além de uma sustentabilidade global, queremos mais proatividade em relação ao caso «Almaraz», que se encontra praticamente a paredes-meias com Portugal.

Assim, reunido em 11 de janeiro de 2017, o Município de Palmela:
- Rejeita a instalação de qualquer central ou cemitério nuclear em Portugal, ou junto da fronteira portuguesa,
- Condena firmemente a intenção do Governo Espanhol de autorizar a instalação de um armazém de resíduos da central nuclear de Almaraz;
- Exorta o Governo de Portugal a usar todos os meios legais e políticos ao seu alcance para travar essa instalação;
- Exorta o Governo Português, a Assembleia da República e mesmo a sociedade civil a exigirem firmemente, nas respetivas esferas de atuação, o encerramento da Central Nuclear de Almaraz;
- E reitera resolutamente a sua rejeição quanto a eventuais tentativas de instalação de qualquer nova central ou cemitério nuclear em Portugal ou junto da fronteira portuguesa.

- Remeta-se para:
Presidente da Assembleia da República;
Ministério do Ambiente;
Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local (11CAOTPL);
Grupos Parlamentares da Assembleia da República;
Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP);
Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS);
Associações de Defesa do Ambiente;
Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus);
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF);

Comunicação Social.»