A Câmara Municipal de Palmela aprovou,
por unanimidade, na reunião pública realizada a 11 de janeiro, duas moções –
uma apresentada pela maioria CDU, outra pela Vereadora e pelos Vereadores do
Partido Socialista e pelo Vereador da Coligação Palmela Mais – a propósito do
falecimento, a 7 de janeiro, de Mário Soares.
Em ambos os textos, se destacam
momentos chave da vida do ex-Presidente da República, uma das figuras mais
marcantes da política do século XX, sublinhando a luta constante pela liberdade
e o papel determinante na construção da democracia portuguesa e da Europa.
Abaixo, seguem os textos das moções.
Voto de
Pesar CDU
«Faleceu no passado dia 7 de Janeiro,
aos 92 anos, o ex-Presidente da República Mário Soares.
Destacado opositor do regime fascista,
Mário Alberto Nobre Lopes Soares destacou-se em muitos dos momentos-chave do
combate contra a ditadura, tendo, entre outras ações, sido dirigente do
Movimento de Unidade Democrática (MUD), membro das comissões das candidaturas
do General Norton de Matos e do General Humberto Delgado
à Presidência da República (em 1949 e 1958, respetivamente).
Como advogado, foi defensor de
numerosos presos políticos, enfrentando o Tribunal Plenário e o Tribunal
Militar, e representou a família do general Humberto Delgado na investigação do
seu assassinato pela PIDE, sendo decisivo na denúncia do crime.
A sua atividade política levou-o à
prisão mais de uma dezena de vezes - casando, aliás, no Aljube, com Maria
Barroso, sua companheira de vida e de luta -, à deportação para S. Tomé, sem
julgamento e, na década de 70, ao exílio forçado em França. Em 1973, funda, na
Alemanha, o Partido Socialista, de que foi eleito sucessivamente
secretário-geral, ao longo de 13 anos.
Regressou a Portugal, após o 25 de
Abril, a tempo de comemorar, ao lado de Álvaro Cunhal e de outros destacados
combatentes antifascistas, o 1º de Maio de 1974, momento inesquecível de
celebração da Liberdade. E teve, nos dias que se seguiram, como primeira
missão, a deslocação, em representação da Junta de Salvação Nacional, às
capitais europeias, no sentido de obter o reconhecimento diplomático do novo
regime democrático.
Exerceu, entre outros cargos, o de
ministro Sem Pasta, dos Negócios Estrangeiros, Primeiro-Ministro e Presidente
da República, eleito, em 1986, à segunda volta, com o apoio de toda a esquerda
portuguesa, e reeleito para novo mandato, que o manteve em exercício do cargo
até 1996. Foi, ainda, deputado do Parlamento Europeu, entre 1999 e 2004.
A sua dimensão cultural, humana e
europeísta, a frontalidade e coragem demonstradas, ao longo de uma vida de
combates pela liberdade e a democracia, reservam-lhe um lugar na História
nacional e mundial e na memória dos que combateram a ditadura fascista e
lutaram pela instauração da Democracia.
Reunida em sessão pública, a 11 de
Janeiro de 2017, a Câmara Municipal de Palmela expressa à família de Mário
Soares, ao Partido Socialista, e aos seus companheiros que com ele partilharam
lutas, vitórias e sonhos, o profundo pesar pelo seu desaparecimento físico.»
Voto
de Pesar PS/ Coligação Palmela Mais
«Portugal ficou de luto, com a morte,
no passado dia 7 de janeiro, de Mário Alberto Nobre Lopes Soares. Deu rosto,
corpo e voz à Liberdade e à Democracia, ficando eternamente ligado ao 25 de
Abril de 1974.
Mário Soares é, reconhecidamente, a
figura política mais marcante do Século XX. Fundador
do Partido Socialista, foi um estadista que se destacou na política nacional e
internacional. Lutador antifascista, pugnou pelos ideais republicanos da Solidariedade, da Fraternidade
e da Igualdade, com eles e por eles viveu a sua vida e influenciou a de
todos nós.
Advogado de profissão, foi
Primeiro-ministro, sendo responsável pela estabilização económica do País e
pela concretização do desígnio estratégico de integração de Portugal na então
CEE, hoje União Europeia. Apesar dos programas de ajustamento económico que
teve de gerir, foi com os Governos de Mário Soares que se deram passos
importantes na construção do nosso Estado Social, de que se destaca a criação
do Serviço Nacional de Saúde.
Presidente da República eleito,
primeiro, com o apoio de toda a Esquerda, soube ser o Presidente de todos e
todas os/as portugueses/as.
Antes e depois do 25 de Abril, na
resistência à ditadura e a todas as tentativas totalitárias, e até ao fim da
sua vida, Mário Soares foi sempre um incansável combatente pela Liberdade e pela
Democracia em Portugal, a sua voz mais reconhecível e reconhecida dentro e fora
do nosso país.
O pensamento é sempre livre mesmo na
reclusão forçada. Mas, Mário Soares fez do pensamento o prefácio da ação,
impaciente por fazer e paciente pela vitória desse fazer. Como se a sua força
tivesse vontade própria. Talvez por isso nos pareça que nunca se sacrificou,
mesmo se foi perseguido, preso, deportado, exilado. Talvez porque ele era
sempre vida, fosse na zanga, no confronto, na calma do debate ou na alegria
surpreendente daquela gargalhada larga.
Mário Soares não viveu como um herói,
não foi santo, não fez sozinho, não ganhou sempre, não acertou sempre, não
morreu como mártir nem merece idolatria. Foi um homem corajoso e convicto, um
lutador cívico, um político eleito pelo povo ao serviço do povo, um homem que
merece reconhecimento e gratidão para sempre. Longe de ser consensual, sempre
soube gerir desacordos.
Sobre todos e todas nós fica a imensa
responsabilidade de saber estar permanentemente à altura do seu legado,
garantindo que, se nos batermos pela Liberdade, nunca cederemos a qualquer
forma de opressão. Sermos livres e democratas é um privilégio, lutarmos para
que todos e todas sejam livres é a nossa missão.
Reunida
a 11 de janeiro de 2017, em sessão pública, a Câmara Municipal de Palmela
expressa o seu pesar pelo desaparecimento de Mário Soares à família, aos e às
democratas. Saibamos honrar uma figura ímpar e inesquecível da História de
Portugal, um combatente, um inconformado, um humanista, um Português de corpo
inteiro.
Obrigado
Mário Soares!»