A Câmara Municipal de
Palmela aprovou, por unanimidade, na reunião pública de 10 de janeiro, uma
Moção que defende a liberdade da jovem ativista palestina Ahed Tamimi, detida
em dezembro e manifesta a solidariedade do Município para com todos os menores
palestinos presos.
Segue, abaixo, o
texto integral da moção:
«Ahed Tamimi, de 16 anos, conhecida ativista palestina
contra a ocupação, foi detida na madrugada do dia 19 de dezembro por militares
e polícias de fronteira de Israel que assaltaram a sua casa, na aldeia de Nabi
Saleh, na Margem Ocidental ocupada.
O pretexto da sua detenção é um vídeo em que se vê Ahed,
com a sua a prima Nur, enfrentando com pontapés e bofetadas soldados israelitas
armados, que levou o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, a
defender que as jovens «deveriam acabar os seus dias na prisão».
O vídeo foi divulgado em Israel numa versão editada. Na
versão integral, vê-se que Ahed começou por empurrar os soldados e, só depois
de esbofeteada por um deles, respondeu com bofetadas e pontapés.
No mesmo dia, a mãe de Ahed, Nariman, foi presa quando ia
visitar a filha à esquadra. Também a prima Nur acabou por ser detida no dia
seguinte.
As suas detenções têm sido sucessivamente prorrogadas por
um tribunal militar, permanecendo as três encarceradas.
O acto das jovens da família Tamimi não foi gratuito.
Pouco antes da cena registada no vídeo, no dia 15 de Dezembro, um familiar,
Mohammed Tamimi, de 15 anos, tinha sido atingido na cabeça por uma bala de
borracha, disparada por um soldado israelita, tendo sido levado para o hospital
em perigo de vida.
As duas jovens procuravam impedir que os soldados
invadissem o pátio da sua casa para atacar outros jovens da aldeia que
protestavam contra a recente decisão do presidente dos Estados Unidos de
reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Ahed Tamimi é uma jovem cuja vida está profundamente
ligada à resistência contra a colonização israelita.
Da sua aldeia, Nabi Saleh, foram roubados dezenas de
hectares de terras e uma nascente de água em proveito do vizinho colonato
israelita de Halamish. Desde então, os protestos pacíficos dos habitantes da
aldeia são reprimidos e já se registaram três mortos e centenas de feridos,
mais de metade da população daquela.
Ahed Tamimi acompanha, desde os 9 anos, esses protestos,
em que o seu pai, Bassem, desempenhou um papel destacado. Aos 13 anos, Ahed
tornou-se conhecida por uma série de fotos em que, juntamente com a mãe e tia,
tentava desesperadamente salvar o seu irmão ferido, Mohammad, então com 11
anos, de ser preso pelas forças israelitas.
A vida de Ahed Tamimi é também um testemunho vivo da
violência da repressão israelita. Aos 12 anos, um primo de sua mãe, Mustafa
Tamimi, foi morto diante dos seus olhos por um disparo de uma granada de gás.
Um ano depois, viu o seu tio Rashadi ser morto a tiro pelo exército israelita.
E a 15 de Dezembro viu Mohammed, quase da sua idade, atingido na cara por uma
bala revestida de borracha que lhe penetrou no crânio.
O seu pai, Bassem, foi preso pelas autoridades israelitas
mais de uma dezena de vezes, tendo passado mais de três anos em detenção
administrativa, sem julgamento nem culpa formada; foi reconhecido pela União
Europeia como “defensor dos direitos humanos” e designado prisioneiro de
consciência pela Amnistia Internacional. A mãe, Nariman, enfrenta a sua sexta
detenção. A sua casa já foi assaltada pelas forças israelitas mais de uma
centena e meia de vezes.
« Além de ver sucessivamente prolongada a sua detenção,
Ahed tem sido transferida entre várias prisões de Israel, em violação do direito
internacional, que proíbe a
transferência de palestinos
do território ocupado para o
território israelita.
Mas Ahed Tamimi junta-se aos mais de 300 menores
palestinos atualmente presos em prisões de Israel. Segundo o Addameer, grupo de
defesa dos presos palestinos, mais de 12 mil menores palestinos foram detidos, desde 2000, e cerca de 700 menores palestinos
da Margem Ocidental ocupada
são processados todos os anos por
tribunais militares e detidos e interrogados pelo exército israelita.
A maioria dos menores são submetidos a maus tratos
durante os interrogatórios para lhes extrair confissões forçadas, sendo muitas
vezes obrigados a
assinar documentos escritos
em hebraico, cuja língua não
compreendem. Alguns dos jovens
palestinos presos, durante
os protestos das
últimas semanas e libertados recentemente, como Fawzi
al-Juneidi, de 16 anos – cuja fotografia, vendado e rodeado por mais
de vinte soldados, correu mundo –
apresentam sinais evidentes de tortura e maus tratos.
A organização Defence for Children International -
Palestine denunciou que,
só em 2017,
onze menores estiveram
sujeitos a prisão solitária e que em 520 casos
de crianças palestinas detidas, entre 2012 e 2016,
72% enfrentaram violência física e 66% foram vítimas de insultos e
humilhações.
Bem conhecida pela sua
coragem na resistência
à ocupação, Ahed
Tamimi é desde
há muito alvo
de insultos e ameaças e, por isso, corre na prisão riscos contra a sua
integridade física e psicológica. Na sequência da sua prisão, um destacado
jornalista de Israel, Ben Caspit, chegou mesmo a defender que as raparigas
palestinas presas deveriam ser sujeitas a alguma forma de punição violenta, «no
escuro, sem testemunhas nem câmaras».
Reunida em sessão pública, a 10 de janeiro de 2018, a
Câmara Municipal de Palmela delibera:
- Condenar a repressão e violência de Israel, em
particular sobre os jovens e as crianças dos territórios ocupados da Palestina;
- Manifestar a sua solidariedade com Ahed Tamimi e todos
jovens e crianças presos por Israel e exigir a sua libertação imediata;
- Dar conhecimento da presente moção às seguintes
entidades:
Missão Permanente de Portugal junto das Nações Unidas
Presidente da República
Primeiro-Ministro
Ministro dos Negócios Estrangeiros
Grupos Parlamentares da Assembleia da República
Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Palestina
Presidente da Assembleia Municipal de Palmela
Presidentes das Juntas e União de Freguesias do Concelho
Embaixada de Israel
Missão Diplomática da Palestina
Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no
Médio Oriente
Comunicação Social».